Ela se esmerou. Cabelos, unhas, pêlos. Perfume e batom. Veludo encarnado. Rosas e almofadas. Trilha suave, montes de velas, grandes e pequenas. Cor de sangue. Às dez, o quarto ardia como o inferno. Nua, ela esperava prostrada aos pés da cama. Humilde. A coleira de veludo em contraste com a pele alva, as chamas crepitavam. Entrando silenciosamente, ele tomou nas mãos uma das velas. Cutucou-a com o pé e ordenou que deitasse no chão, olhos fechados. O tempo escoava e nenhum dos dois fazia movimento algum. Por fim, sem conter a agonia, ela suspirou. Imediatamente, ele tingiu-lhe de rubro a pele, derramando a vela sobre os mamilos. Gemido, lágrimas, alívio. Agora estava quase em paz. A queimadura atenuava o ardor da alma.
Lívia Santana.
Uberlândia - 05/2005
Imagem: Mara Costa.
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