sexta-feira, 23 de maio de 2008

Isa


Lá vinha ela, Isa. Uma visão. Morena das ancas largas, bamboleantes, pele acetinada. Os cabelos, em cachos escuros e brilhantes, caíam-lhe pelas espáduas, emoldurando o belo rosto e balançando no ritmo dos quadris. Os olhos, claros, quase amarelados, marcados por cílios longos e escuros. Os lábios, cor de carne, cheios, convidativos, se abriam num leve sorriso, revelando a fileira de dentes alvos e regulares. As pernas longas se moviam graciosamente, balançando a saia provocantemente em torno dos joelhos. Um animal vigoroso. Uma mulher que incomodava. Fazia latejar desejos insidiosos e impronunciáveis. Deixava um rastro eletrificado pelos olhares cobiçosos que a seguiam. Caminhava despreocupada, o vento brincando-lhe com os cabelos e as roupas, causando uma leve expressão de prazer em seu rosto. E Isa, passando como sempre em frente à minha casa, afigurava-se a cada dia mais irreal e desejável. Um espetáculo irresistível a mim, hipnotizado à janela. Meu sangue se revolucionava e mal podia me mover. Ficava ali, rígido e atormentado, sabendo que à noite, suado e insone, ainda a veria. E o dia demoraria eternamente a chegar, mais uma vez.

Lívia Santana.
Uberlândia - 12/2004
Imagem: autor desconhecido.

Nenhum comentário:

 
BlogBlogs.Com.Br