Até onde eu sei, a lei brasileira é muito boa. Afora algumas medidas estapafúrdias aqui e ali, o texto é bem feito e teoricamente bem fundamentado. (Se é cumprida é outra história, mas que é boa, é). Já da mídia não se pode dizer a mesma coisa. Não que esta não seja ágil ou eficiente, longe disso. A imprensa brasileira supera aquelas belas criaturinhas aladas de Deus - os abutres - no quesito "farejar desgraça". Imbatíveis! E, no entanto, a opinião pública desce o malho no sistema jurídico sem pensar duas vezes e engole qualquer gororoba servida pela mídia. Basta que se pinte em cores sensacionais o bastante - o que não é o forte da Justiça (afora o circo norte-americano!) - para que o cidadão se sinta satisfeito e pense consigo mesmo "como sou bem informado!". Entretanto, tamanha agilidade da imprensa pressupõe algo mais: a imprecisão. Não dá tempo de dar a notícia em primeira mão e consultar antes a assessoria, seja lá do que for. Afinal, o que importa se está tudo errado, se o repórter não entende patavina do que está falando, ou que a informação não cole lé com cré? Ele tem é que chamar o Plantão - aquele, da musiquinha apavorante, que traz todo mundo prá sala, perguntando: "Quem morreu agora?" - bem no meio do filme, prá contar prá todo mundo, antes da concorrência, que aconteceu sei lá o quê com sei lá quem.
Quando prenderam o tal do jogador argentino que xingou o tal do Grafite, os abutres, digo, os repórteres fizeram um rega-bofe caprichado. Segundo as reportagens, o "argentino foi preso por racismo", o que foi repetido pelos brasileiros-espectadores leigos a torto e a direito. Logo em seguida, essa mesma idéia causou a indignação apaixonada desses leigos ao saberem que "o safado do argentino tinha sido solto": - "aonde é que nós estamos?", "a justiça nesse país é uma vergonha!". Visitar um desses canais de notícias na internet implicaria em dar de cara com uma enquete cheia de razão, convidando o navegante - não internauta - a opinar se "a punição para o argentino foi justa" ou "se concorda com a soltura" do dito cujo. Se perguntar a qualquer um desses indignados participantes de enquete o que aconteceu, ele dirá, muito vagamente, que o "safado do argentino xingou o Grafite de preto e foi preso por racismo!". Não foi o que deu no jornal? Então é isso mesmo, oras! Se eu chegasse prum cidadão desses e dissesse que o argentino não foi preso por racismo e sim por injúria, ele riria da minha cara. "que história é essa de calúnia?" - Calúnia não, injúria.´Por preconceito. "é a mesma coisa!" "não sabe do que está falando!". E prá finalizar em grande estilo: "Mulher não entende de futebol, mesmo!"
Lívia Santana.
Uberlândia - 04/2005
Imagem: Paulo Pinto.
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