sexta-feira, 23 de maio de 2008

Primeiro Estágio


Ela abriu a porta e me atacou com um “bom dia”, pronunciado cuidadosamente pela boca do tamanho do mundo, já começando a me mastigar com os dentes perfeitos. Traiçoeira. Nem pude me defender. Fiquei ofuscado como se uma parcela do sol radiante que brilhava lá fora estivesse dentro dela. Nada mais excitante numa mulher do que a maturidade. Nada mais embriagante que o olhar seguro, cônscio do poder e da sensualidade que possui. Deslumbrei-me com o sorriso lento e deliberado de quem sabe o que quer e como fazer. Admirei, assombrado, a consistência das curvas e das palavras. Uma mulher completa, na medida. Sem as incertezas e frivolidades das meninas. Serena e excitante. Feminina, inteligente, determinada. Linda. Nem me lembro direito o que disse a ela na entrevista, o fato é que acabei contratado. Tenho a sensação de que percebeu logo o fascínio que exerceu sobre mim e que este foi um dos fatores pra ter me querido como estagiário. Ela me dá ordens o dia todo, de um jeito todo dela. Sempre agradável, sempre irresistível. Como se soubesse que basta me sorrir com os olhos promissores prá conseguir o que quiser. Diariamente observo-a se mover pelo escritório, elegante. Ela tem pernas longas, flexíveis, torneadas, sempre ocultas por calças bem cortadas. Usa saltos muito altos e finos, prato cheio pra qualquer fetichista. Nunca veste saias, como se soubesse que talvez eu não me contivesse e acabasse levando a cabo minha fantasia diária: atirá-la sobre a minha mesa e afundar a boca na curva suave do seu pescoço. Percebo que ela se diverte com os meus olhares e se compraz com o meu desejo, mas conserva criterioso distanciamento. E acho que a entendo. Não precisamos de vencedor nesse jogo, todo nosso. O que nos estimula é o embate diário, a possibilidade constante. É esta dança que nos torna cúmplices, que alimenta doce expectativa. Essa magia é que me mantém cativo, que dá um colorido único aos meus devaneios. Por hora, este estágio me basta e não o troco por nenhum outro.


Lívia Santana.
Uberlândia - 05/2005

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